terça-feira, 27 de abril de 2010

Uma ótima leitura, sempre

Leia ouvindo:
Paul McCartney & Wings - Live And Let Die

Nunca me decepciono com Ian McEwan. Tudo o que eu leio dele (ou quase, já explico) me deixa com uma sensação de que eu a) nunca vou escrever na minha vida igual/parecido com ele, nem nos meus melhores sonhos e que b) sempre vou lembrar de trechos, e será mais um daqueles livros em que, qualquer página que eu abrir vou tirar uma citação (vide A Insustetável Leveza do Ser, Milan Kundera, mais em breve).

Terminei meu quarto livro e meio dele, Cães Negros. Já li Reparação, Sábado, Na Praia e infelizmente, por razões que eu desconheço, não terminei de ler Jardim de Cimento. Mas um dia eu termino, juro! É um livro bárbaro, mexeu demais comigo.

Mas vamos aos Cães Negros. Na história, Jeremy é um órfão que sempre busca nos pais dos seus amigos, o carinho que ele nunca teve com os próprios pais, que morreram em um acidente de carro quando ele tinha oito anos. É por isso que ele se identifica tanto com sua sobrinha, Sally, que de uma forma é “meio órfã” já que a mãe e o pai não dão a devida atenção para a menina.

Por isso, ele fica obcecado pela história dos pais da sua mulher, Jenny. June e Bernard Tremaine são um casal de comunistas que se casaram logo após a guerra. O que acontece na lua de mel do casal, pelo interior da França é que faz o recém-casal ir se separando, mas sem nunca deixar de um influenciar na vida do outro.

Os cães negros que dão título ao livro são o motivo da lenta separação do casal, já que ali, a mulher viu a personificação do mal como ela diz, justamente para fugir do pragmatismo de Bernard. A história é contada pelo ponto de vista de Jeremy, na primeira pessoa, e trás também a queda do Muro de Berlim como um parte muito importante da história de Bernard e June que ele futuramente vai contar.

É uma ótima leitura. Fica a dica para quem quiser acompanhar esse escritor que sempre me surpreende e nunca me decepciona. Agora, algumas das frases perfeitas que eu falei no post abaixo. Espero que vocês gostem.

“Eu não era ligado a ninguém. não acreditava em coisa alguma. Não que duvidasse de tudo, ou que estivesse armado com um ceticismo útil da curiosidade racional, ou que fosse capaz de analisar todos lados de um argumento; simplesmente não me identificava com nenhuma causa, nenhum princípio duradouro, nenhuma ideia fundamental, nenhuma entidade trascendente cuja existência eu pudesse verdadeira e apaixonadamente garantir”. Pág 19.
“Eu só os conheci muito mais tarde, mas sentia uma espécie de saudade do tempo distante e breve quando Bernard e June viveram juntos, com amor e sem complicações”. Pág 41.
“Os momentos decisivos da vida são invenção de romancistas e dramaturgos, um mecanismo necessário quando uma exitência é reduzida a um enredo, traduzida por ele, quando a moral deve ser destilada de uma sequência ações, quando o público deve ir para a casa com algo inesquecível que marca o crescimento do personagem”. Pág 46.
“A verdade é que amamos, nunca deixamos de nos amar, é uma obsessão. E não conseguimos fazer coisa alguma com isso. Não fomos capazes de construir uma vida. Não pudemos desistir do amor, mas recusamos nos curvar à sua força”. Pág. 47.
“Cada desacordo era uma interrupção daquilo que sabíamos ser possível – e logo passou a haver uma única interrupção. No fim, o tempo acabou, mas as lembranças não desapareceram, acusadoras, e ainda hoje nenhum de nós pode deixar o outro em paz”. Pág. 48.
“A crença de que a vida realmente tem recompensas e castigos, que no fundo de tudo existe um padrão de significado além do que atribuímos a nós mesmos – isso é mágica consolodora”. Pág. 71.
“O racionalismo é uma fé cega”. Pág. 103.
“Podemos amar sem um deus, muito obrigado. Detesto o modo de como os cristãos sequestraram o mundo”. Pág. 104.
PS: Não sou crítica literária! É só um aviso. Críticas são sempre bem vindas, mas de quem entende, por favor.

PS2: Não quis copiar aqui todas as frases do livro que eu gostei. Existem várias e elas precisam do contexto! Então leiam!

4 comentários:

  1. Adorei o perfil do blog, já estou seguindo!:)

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  2. Não conheço esse autor, mas vou procurá-lo. Valeu a dica ;)

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  3. Ai ai ai!!! Me dá mais trechos!!! Que vontadeeeee!!!!

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  4. Gostei muito do post. Até lê-lo, não tinha feito a relação entre os livros Reparação e Na Praia (esse último já folheei várias vezes na livraria). Sei lá, nome de autor de língua inglesa é tudo igual pra mim... As frases são boas mesmo, quem é bom nesse negócio de frases contundentes é o Coetzee!
    Parabéns pela crítica!

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